Entrevista: Remo Lucioli Materia fornecida pela GF LUB – Distribuidora Shell

Desde 1997, algumas montadoras brasileiras passaram a adotar motores de “alta rotação”, que estão “fundindo” prematuramente devido principalmente ao uso de óleo errado. A afirmação é do especialista
em lubrificantes automotivos, Remo Lucioli, que é representante no Brasil da empresa inglesa Lubricants Search Sistem e consultor para Minas Gerais dos fabricantes dos lubrificantes Elf. Total e Fina.
Remo que já trabalha também como consultor técnico para a empresa espanhola Repsol, é um estudioso do assunto e atualmente viaja pelo Brasil dando palestras em empresas frotistas, concessionárias,
oficinas e centros automotivos sobre a importância de se usar o óleo correto para cada motor.

Estado de Minas- O que são motores de ”alta rotação”?
Remo Lucioli- São motores a combustão (a gasolina, álcool ou gás) que operam em regimes de rotação acima de 5.000 rpm e motores a explosão (diesel) que trabalham em regimes de rotação acima de
3.000 rpm. Podemos dizer que são motores ecologicamente corretos, pois boa parte da energia que produzem vem da transformação de energia cinética em energia potencial.

Pergunta – Em que se baseia esta tecnologia?
Remo – O conceito desta tecnologia está em reduzir a cilindrada para diminuir o volume de gases poluentes produzido em cada ciclo do motor; aumentar as rotações do motor, para aumentar a produção
de energia cinética; aproveitar a energia cinética produzida, transformando-a em energia potencial.

Pergunta – Como surgiram estes motores?
Remo – É preciso voltar à década de 80 para explicar as transformações. Naquela época, o aumento da produção e comercialização de veículos automotores levou o governo e as organizações
ambientalistas a proporem mudanças na legislação ambiental com finalidade de diminuir os efeitos da poluição provocada pelas emissões veiculares. Na década de 90, a indústria européia, direcionou seus projetos de motores para a tecnologia de alta rotação, visando tanto a redução de poluentes emitidos por estes motores quanto a economia de combustível. Esta solução também foi adotada pelos fabricantes
de motores asiáticos e sul-americanos (a maiorias dos projetos de motores adotados no Brasil são projetos europeus).

Pergunta – Quando estes motores de “alta rotação” chegaram no Brasil?
Remo – Pode se dizer que a partir de 1997, a indústria automobilística nacional passou a produzir motores de “alta rotação”. A Volkswagen, por exemplo, adotou os Mil nos Gol e Parati; a Fiat entrou
com o 1.6 16V no Pálio, e a Ford passou a adotar as Endura e Zetec no Ka, Fiesta e Escort.

Pergunta – Por que a chegada destes motores coincide com o início de uma maio quantidade de problemas de lubrificação nos motores?
Remo – Houve uma mudança também no conceito de lubrificação. A explicação é técnica. Nos motores de alta rotação ocorrem mais combustões ou explosões que nos motores de baixa rotação. Se observarmos
o mesmo espaço de tempo. Portanto, nos motores de alta rotação é gerada maior quantidade de calor que nos motores de baixa rotação. Desta forma torna se necessário que o calor produzido
nestes motores seja dicipado de maneira mais rápida e eficiente que nos motores de baixa. Por este motivo, a bomba de óleo destes motores precisa Ter pressão e vazão bem altas, para circular o lubrificante
com rapidez chegando a circular em um minuto mais de 7 vezes o volume total do óleo existente no cárter, quando o motor estiver acima de 5.000rpm. A bomba de óleo deve manter os mancais pressurizados adequadamente na alta rotação. Por estes motivos o óleo lubrificante utilizado nestes motores deverá ser o
mais fino possível (“leve”) e ter uma altíssima resistência térmica, além de um elevado índice de viscosidade, para resistir ao afinamento e engrossamento constantes, pois o óleo é principal na retirada
de calor gerada nas câmaras de combustão ou explosão. Vale dizer que quanto mais rápido girar
o motor mais rápido o óleo terá que circular para resfriar o calor produzido.

Pergunta – Na sua opinião, estes novos motores exigiram novos óleos e um cuidado especial dos motoristas na manutenção, aos quais eles não estavam acostumados?
Remo – Os motores de alta rotação adotam óleos bem diferentes daqueles adotados em motores de baixa rotação, que podiam utilizar óleos mais “grossos” sem maiores problemas, desde que o óleo
tivesse qualidade. Nos motores de alta rotação exigem óleos com IV (índice de viscosidade) maior. O IV é que determina a resistência do óleo ao afinamento e engrossamento quando ele é exposto a uma variação de temperatura. O uso de óleo fora dessas especificações permite o contato entre as peças móveis do motor, gerando atrito que produzirá desgaste e calor excessivo, podendo fundir o motor. Ou seja o óleo errado não cumpre a sua função de lubrificar e resfriar. Por isso, o motorista tem que estar atento para as
especificações e não pedir apenas o óleo mais barato na hora de trocar.

Pergunta – O problema então seria o uso de óleos mais “grossos”?
Remo – Exatamente, Estes óleos mais grossos (“pesados”) irão forçar a bomba de óleo provocando uma sensível diminuição de sua vida útil, diminuindo a pressão e a vazão. Isto acabará por provocar o espessamento (“oxidação”) do óleo e entupimento dos canais de lubrificação, o que trará danos gravíssimos aos componentes móveis, levando a fundir por deficiência de lubrificação.

Pegunta – Muitos especialistas atribuem o problema ao prolongamento da troca do filtro de óleo e à contaminação do óleo por combustível adulterado. Você concorda com isso?
Remo – Quanto ao filtro de óleo, concordo, pois ao trocar o óleo é fundamental trocar também o filtro porque ele vai acumulando toda a espécie de sujeira que circula pelo motor. Se o motorista prolongar
demais a troca, além de provocar danos na bomba de óleo, poderá fazer com que a válvula de alívio do filtro libere de uma só vez toda a sujeira que ela reteu, obstruindo os canais de lubrificação e provocando
o travamento do motor. Quanto à contaminação , ela representa muito pouco em todo o processo. Acredito que a “borra” em que se transforma o óleo é conseqüência do calor gerado pelo atrito,
que fritou o óleo, provocando a sua oxidação (engrossamento), isto é, a “borra”.

Pergunta – Como o consumidor deve proceder para não utilizar um óleo inadequado ?
Remo -Deverá em primeiro lugar consultar o manual do veículo. Se isto não for possível, ele pode seguir algumas recomendações. Em geral o proprietário de um veículo importado produzido a partir
de 1990, De um nacional produzido a partir de 1997, ou de qualquer veículo com motor
equipado com cabeçote multiválvulas deverá usar um óleo mais “fino”, cuja a viscosidade seja SAE 15W/X – 10W/X ou 5W/X. Alem da viscosidade, deverá ser observado o grau de serviço através das
especificações ACEA2 ou superior e APISJ ou superior. Quanto a natureza dos óleos deverá dar preferencias aos óleos produzidos com base sintética. Estas informações devem ser verificadas nas embalagens do óleo. Em hipótese alguma, o motorista deverá utilizar aditivos junto com o óleo do motor.

Pergunta -Qual é o período para troca de óleo dos motores de alta rotação ?
Remo -Atualmente os fabricantes têm recomendados longos períodos para troca, porém esses períodos estão vinculadas a uma determinada forma de utilização do veículo. Ou seja, um veículo que
circula 70% do tempo em vias asfaltadas poderá trocar o óleo com maior quilometragem que um veículo que roda 70% do tempo em tráfego urbano ou estradas de terra. Normalmente o usuário não presta
atenção a essas recomendações e acaba usando o óleo acima do limite permitido, o que seguramente lhe trará sérios problemas. Não devemos esquecer ainda, que, independente da quilometragem ou
do regime de utilização, o óleo do motor deverá ser trocado no máximo a cada 6 meses.

Pergunta -O motorista pode completar o nível com outro tipo de óleo ?
Remo -Todo o motor consome óleo. Os valores tidos como aceitáveis giram em torno de 200ml/300ml por 1.000Km. Se tomarmos como base o período de troca como 10.000kms (ou 6 meses) o motorista terá colocado 2 litros de óleo novo nesse período, o que representa cerca de 60% do volume do cárter (tomando como base um cárter de 3,5 litros) se for tomado como base o período de 15.000kms, o
motorista terá trocado todo óleo do cárter. De que adianta ter tanto cuidado ao adotar o óleo correto se o motorista completa com outro tipo de óleo, ou seja, um óleo inadequado ? Se completar com um óleo
que tenha as mesmas especificações, de marca diferente, não tem nenhum problema.


Entrevista: Remo Lucioli Materia fornecida pela GF LUB – Distribuidora Shell (15) 3543.9000

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